5º Dia - 13 de Setembro de 2002 – 6ª feira
Riego del Camino – Benavente - 32,3km
Embora o Guia atribuísse dificuldade média à jornada do dia anterior, para mim foi muito duro.
O tempo está divinal para caminhar. Um pouco menos de calor que o dia de ontem, que foi terrível.
Tenho as pernas, atrás, queimadíssimas do sol. Verdadeiros escaldões que apanhei. Por isso, coloco uma t-shirt presa na mochila, atrás, para fazer sombra às pernas para conseguir andar.
Vou agora para Granja de Moreruela e espero chegar hoje a Benavente. Vai ser uma grande jornada. Por enquanto o caminho continua igual.
A paisagem continua desoladoramente bonita, ou seja, sem árvores, sem casas, sem ninguém.
Mais para o final do dia penso que começaram a mudar com a aproximação ao rio Esla que banha Benavente.
Pelo guia apercebo-me que não há albergue em Benavente. O Parque de Campismo fica a 7km, o que rondaria a jornada em cerca de 40km. Demasiado, com este calor e esta mochila. Logo veremos.
O dia não está a ser fácil. As minhas bolhas do pé direito não me chateiam, tal como as bolhas do meu pé esquerdo. Mas com a perna esquerda, a história é outra. Dói-me bastante na ligação frontal entre a perna e o pé. Dói a sério.
Sento-me e tiro o estojo de 1ºs socorros. Opto por ligar a perna e o pé com uma ligadura elástica, pois as dores são imensas.
Agora já caminho melhor, desde que em trilhos de terra (irregulares). Quando tenho de caminhar no alcatrão, como o movimento do pé é sempre o mesmo, forço sempre no mesmo local e dói-me mais.
Agora caminho numa linha de caminho de ferro. É verdade. E é difícil caminhar aqui, pois a distância entre as madeiras que piso nunca estão à distância correcta do meu passo, ou seja, tenho de dar passinhos pequenos ou grande demais.
Estou a aproximar-me do rio Esla e só vejo milho. Campos com hectares e hectares de milho. Altíssimo, bem mais do que eu, o que me deixa com uma visibilidade extremamente reduzida. Vejo ao longe o telhado de uma casa. Apenas o telhado, envolto num mar de milho. Embora estranho, tenho de admitir que estou a gostar desta experiência. Isto é grandioso!
Estou a ficar completamente maluco. Horas e horas a caminhar na linha de comboio, e sempre a olhar para o chão para ver onde ponho os pés está-me a deixar desorientado. Farto-me de falar sozinho e já não digo coisa com coisa. Acho que estou a perder o juízo. E as rectas nunca mais acabam.
Chego finalmente a Benavente atravessando uma ponte de ferro.
Catedral de Benavente
Estou tão cansado que opto por alugar um quarto no “Hostal Paraíso”. Pago 18,00€.