Em 2002

 

Histórias que fui conhecendo/acompanhando no Caminho.

 

Recordo-me de um caso que li num livro de hóspedes, penso que no albergue de Sarria. Um madrileno e uma brasileira conheceram-se ao fazer o Caminho, logo nos primeiros dias. Estavam a fazer todo o Caminho Francês, que dura cerca de 29 dias.

Quando chegaram ao Cebreiro já eram namorados. Ao chegarem a Santiago, tiveram de se separar. Ele foi para Madrid e ela para o Brasil.

Passados 6 meses, já ele estava no Brasil, regressaram novamente ao Caminho.

Fizeram-no de novo, juntos, e quando chegaram ao Cebreiro – casaram!! Quando chegaram a Santiago apanharam um avião para os Estados Unidos para aí viverem!!

 

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O Xavi e a Judith, conheceram-se o ano passado a fazerem o Caminho e começaram a namorar. Ele é de Madrid. Ela de Barcelona. Este ano voltaram a fazer o Caminho, mas como namorados.

 

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Havia um alemão (talvez 25-30 anos) que fazia o Caminho sozinho, mas que eu ia vendo todos os dias, pois ia ficando nos mesmos albergues. Era provavelmente o peregrino mais rápido da altura. Impressionante a facilidade com que caminhava, na maior descontracção. E sempre sozinho.

Costumava sair mais ou menos ao mesmo tempo que nós, mas rapidamente desaparecia de vista. Mais à frente, a meio da manhã, era usual passarmos por ele, sentado numa esplanada a beber umas cervejas. Depois continuava a caminhar, passava por nós e íamos encontrá-lo pela hora de almoço, a comer e a beber u vinho tinto. Se o tempo permitia, escolhia sempre uma esplanada no Caminho.

Fazia o Caminho como se andasse a passear, mas sempre com um ritmo e um espírito muito especial.

Nos últimos dias começámos a vê-lo caminhar bem mais devagar e sempre acompanhado por uma moça.

Pensámos que fosse alguém conhecido que se tivesse juntado a ele apenas naquela altura. Mas não. Viemos a saber que conheceu uma moça, começaram a namorar e agora, no final do Caminho, iam passar uns dias a Madrid para se decidirem quanto ao seu futuro.

 

 

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Estas conclusões são fruto da minha conversa com o gravador, durante a viagem de carro para Portugal.

Penso que ainda é cedo para fazer um balanço final.

 

De qualquer forma, posso afirmar que o facto de ter cumprido a minha promessa de ir a pé de Salamanca a Santiago de Compostela me orgulha grandemente.

 

Acreditar em mim. Acreditar nas minhas capacidades. Aperceber-me da enorme força de vontade que possuo quando direcciono as minhas energias para um determinado objectivo.

 

Saber que, sejam quais forem as dificuldades que se atravessem no meu caminho, que tenho força e capacidade para as ultrapassar. Sejam elas quais forem.

 

Apercebi-me da grande capacidade de sofrimento que tenho. Sofri muito no Caminho.

 

A amabilidade e hospitalidade de tanta e tanta gente no Caminho. Jamais me esquecerei da família Jambrina, em Villanueva de Campeán, que conheci logo no início do Caminho.

 

O povo espanhol, no geral, e o povo galego em particular. Ao entrar na Galiza, senti-me em casa. A amabilidade, hospitalidade destas gentes é maravilhosa.

 

De muita gente que conheci no Caminho, tenho que destacar os amigos que fiz. A Katrine e o Fernando, que me acompanharam em muitos quilómetros.

 

O Manuel e seu pai, que conheci já no final do Caminho. São galegos e, quando decidi no ano seguinte – 2003 – voltar a fazer o Caminho, desta vez o “Português” de imediato me ofereceram a sua casa para comer, descansar e dormir, pois o Caminho passa junto à sua casa. Mas isso, fica para outro relato.