16º Dia - 24 de Setembro de 2002 – 3ª feira

Hospital de la Cruz – Melide - 31,7km

 
 
 

Hoje vamos tentar chegar a Melide. Ou outra povoação antes. Depende dos albergues.

 

 

 

Ventas de Narón - Capilla de la Magdalena

 

 

Cruceiro de Lameiros depois de Ventas de Narón

 

 

Marco em Palas de Rei

 

 

Palas de Rei - Monumentos ao Peregrino

 

 

 

 

 

 

Chegando a Leboreiro

 

 

 

Leboreiro - Flecha com conchas

 

Leboreiro - Ponte Romana

 

 

Cruzeiro mais antigo da Galiza

 

 

Chegando a Furelos - Cruz de Santiago

 

 

 

Entrando em Furelos pela Ponte Romana

 

 

 

O cuidado que há com os Peregrinos

 

 

Chegamos a Melide. O dia passou-se bem, sem contratempos. Vou mostrar algumas fotos da jornada de hoje, mas o dia fica marcado pela noite, ou melhor, pelo jantar. Para sempre, no meu coração.
 
Quando chegamos ao albergue e nos preparamos, sente-se uma atmosfera diferente no ar. Faltam apenas 2 dias para chegar a Santiago. Os peregrinos estão eufóricos. Canta-se! Estão todos felizes. Que sorte poder compartilhar estas emoções!
 
Há no ar a sensação de que algo muito forte, muito espiritual, muito grandioso está para acontecer dentro de 2 dias.
 
O pessoal quer sair e festejar, divertir-se. Mas nem todos. É que amanhã, a jornada é de cerca de 33km, pelo que há muitos peregrinos que optam ir descansar mais cedo. Nós, não!
 
Faço agora um parêntesis futebolístico. Embora quem veja as fotos note que passamos o dia a caminhar pelos bosques e montanhas, mas estamos conectados com o mundo! A prova disso, foi o jogo para a Liga dos Campeões entre o Deportivo de la Coruña e o AC Milan. Quando o Deportivo estava a perder 4-0, em casa, com assistências extraordinárias do Rui Costa, no bar onde estava a ver (tudo adeptos do Depor) mudaram de canal para verem o Barcelona – Galatasaray (2-0).
 
Estes últimos dias têm sido extraordinários e diferentes. O ambiente que se vive entre os peregrinos, à medida que nos vamos conhecendo melhor, é fabuloso. Mas, até no melhor grupo, há sempre uma ovelha negra. Neste caso duas. E aqui vai mais uma história do Caminho.
 
Há dois espanhóis que ficam alojados nos albergues, mas que não estão a fazer o Caminho. Dormem no albergue e são os últimos a saírem no dia seguinte. Ninguém os vê durante todo o dia. E quando chegamos ao albergue seguinte, lá estão eles à porta, à espera que abra (abrem pelas 16h00) para marcarem cama. Frescos, descansadinhos, limpinhos. Enfim…
 
Melide é a capital do pulpo (polvo). Os galegos fazem este polvo de uma forma sui generis. Deliciosa. E é servido, tipo petisco. Pois, foi mesmo o nosso jantar.
 
 

Melide - Capela de S. Roque 

 

 

 

Melide - Igreja-Convento Sancti Spiritus

 

 

 

Eu e o Fernando fomos jantar a uma Pulperia – restaurante que só serve polvo. O Fernando já andava hà dias a falar em comer o polvo de Melide.

O local onde fomos, um dos mais afamados em Melide, é um espaço com mesas e bancos corridos de madeira.
 
  Melide - Pulperia

 

 

Pulpo à Galega

 

As pessoas que lá trabalham e servem, são de uma simpatia desconcertante.
 
Quando lá chegámos já lá estava o Fran com duas moças de Vitória. Ele hoje tinha vindo a carregar com duas mochilas para poder ajudá-las! Elas as duas, na casa dos 40 anos, quando se aperceberam que eu era português, só me diziam:- Afonso! Afonso!
É que uma delas, a Blanca, tinha estudado em Madrid e nessa altura tomado conhecimento da música de Zeca Afonso. Principalmente a “Grândola Vila Morena”.
Tal como nós achamos que todos os brasileiros sabem jogar futebol, elas achavam que todos os portugueses sabem cantar a Grândola Vila Morena. E obrigaram-me – literalmente – a fazê-lo!! Se não fossem as taças de vinho Ribeiro…
 
Nem faço ideia das vezes que tive de cantar. E eu que nem sabia muito bem a letra. Elas sabiam-na melhor que eu, mas diziam que a música fica melhor cantada em verdadeiro português. Pronto.
 
Nesta pulperia o nosso grupo (que por esta altura, já era quase toda a gente que estava na pulperia…) está muito alegre. Bebe-se muito vinho Ribeiro. Muito.
 
É festa! Estamos mais próximos uns dos outros. Sentimo-nos como que fazendo parte de uma sociedade secreta. E embora ainda faltem 2 dias, já se nota que os peregrinos estão a descomprimir. E eu também.
 
Já se fala em amanhã nos juntarmos para fazermos uma noitada de copos (lembro que noitada, para nós peregrinos, significa deitar às 22h30…). É que no dia de chegada a Santiago, hà muita gente que se vai logo embora, outros seguem até Finisterra, pelo que amanhã é a última noite juntos.
 
Regressamos ao albergue. Hoje embebedou-se toda a gente. O Fran, já para o final, meteu na cabeça que tínhamos de beber uma bebida qualquer (já nem me lembro o que era). Sei que era fortíssima – tipo aguardente. O pessoal foi-se esquivando, mas ele tanto insistiu que lá bebemos uns copos bota abaixo.
 

Sorte a minha ser Alentejano de Mora... Aguentei-me.

 

Ao Fran, tivemos de o trazer aos ombros até ao albergue. Só parávamos quando ele ia entornando a vasilha…

 

 

Melide - Direcção do Albergue

 

 

Melide - Albergue de Peregrinos