19º Dia - 27 de Setembro de 2002 – 6ª feira

Santiago de Compostela – O regresso a Portugal
 

 

 

Hoje é o último dia em Santiago de Compostela.

 
Depois de tomarmos o pequeno-almoço fomos até à Catedral. Queria ver tudo bem antes de começar a chegar a multidão. Chegámos pelas 10h15 e é impressionante o número de pessoas que já se encontra lá, a um dia de semana.
 

Entrámos “vestidos a rigor”. Já tínhamos feito o check-out, pelo que a mochila e o cajado já nos acompanhava de novo.

 

Visitei a Catedral. Impressionante.

 

Fui dar o “abraço ao Apóstolo”. Subimos acima do altar principal, onde está a imagem do Apóstolo. Passamos por trás e abraçamos o Apóstolo e beijamos. Até estremeci.

 

A seguir, seguimos até à zona do sepulcro, descendo umas escadas até à cripta. Estavam umas pessoas, ajoelhadas a rezar.

O espaço é diminuto, pelo que opto por ficar de pé a contemplar a cripta. E rezo.
Sinto uma paz infinita. O tempo agora parou. Os problemas desapareceram. As dúvidas foram esclarecidas. Estou só eu e Santiago. A paz absoluta. Nem tento explicar o que sinto.
 
A seguir saímos da Catedral e ficamos pela Praça do Obradoiro.
 
Encontro-me com o Xavi e a Judith. Embora o Xavi queira ir a Finisterra resolvem não ir para poderem passar mais tempo juntos e irem ao aniversário de uma amiga da Judith.
 
 

Judith. Aproximam-se os dois Canários

 

 
Regresso à Catedral para assistir à Missa do Peregrino. Estava sentado com o Fernando quando chega a Katrine com uma amiga, que ela deve ter conhecido nestes últimos dias, pois nós nunca a tínhamos visto.
 
Na missa estava à espera que falassem num peregrino português, mas não referem nada. Falam de austríacos, alemães, brasileiros, espanhóis… eu sei lá… mas nada de portugueses. Que pena.
 
Felizmente, há uma qualquer associação de antigos estudantes farmacêuticos que vai patrocinar o “botafumeiro”, pelo que terei o privilégio de assistir.
 

O botafumeiro usado em Portugal mede cerca de 40-50cm e deve pesar uns 500gr. O da Catedral mede 1,60mt e pesa 80kg!! E para ser baloiçado são precisos vários homens. O espectáculo é impressionante, e embora nada se compare à emoção de ver ao vivo, podem espreitar  aqui no Youtube.

 

 

 

Botafumeiro

 

 
 

Antigamente, os peregrinos quando chegavam a Santiago ficavam a dormir nos claustros da Catedral. Sujos e a cheirar mal, pelo que o uso do botafumeiro servia para afastar as pragas. Este ritual teve início no séc. XXI. É contudo também uma parte importante nos actos litúrgicos.

 

É um espectáculo deveras impressionante. Infelizmente, ao assistirmos, temos de presenciar também a falta de respeito das pessoas dentro de um templo sagrado. Para nós, peregrinos, este é um momento muito importante. De reflexão, de admiração. E Necessitamos de serenidade. Coisa que não é possível termos, pois quando se inicia o ritual, os turistas “de autocarro” saltam para cima dos bancos a disparar fotos com flash por todo o lado, que mais parece a entrada do Benfica no Estádio da Luz em noite de jogo grande…

 
Ao final da missa, quando saio da Catedral encontro o pai do Manuel, que eu tinha conhecido antes de entrar na Catedral. Falámos um pouco e deu para perceber que é uma pessoa fantástica, muito espirituosa e afectuosa. Estava com a esposa – Fita.
 

E chegou a hora de me ir embora. E tive de fazê-lo sem me despedir do Manuel – o que muito me custou – mas já tinha o bilhete de comboio pago e não podia esperar. Esperei o mais que pude, mas ele não apareceu.

 
Entretanto, junto-me com o Fernando e Katrine em frente à Catedral com o Juan Carlos. Este lá nos “convence” a irmos beber um copo, logo no início da Rua do Franco. Ao chegarmos à porta digo-lhes que eu não vou entrar pois já não tenho tempo. O comboio parte dentro de 30 minutos e vou para a estação a pé.
 

A Katrine despede-se de mim dizendo que gostou muito de me conhecer e que me vai enviar um email para nos correspondermos.

 

A minha despedida com o Fernando dura escassos segundos e dizemos um ou outro: “Hasta luego!” – como se nos fossemos encontrar brevemente.

 
A emoção que tenho, a amizade que cresceu entre nós, torna este momento particularmente difícil. Viro costas e parto.
 
Faço toda a Rua do Franco a chorar. Tento reprimir as lágrimas, não consigo. Foram muitos quilómetros a caminhar lado a lado, muito companheirismo, 24h sobre 24h; muitas dores, muita ajuda. E o momento da despedida que tanto temia, acontece. É duro. Muito duro.
 

Ainda com olhos embargados de emoção passo pelos “Canários” e despedimo-nos: - “Surte! Suerte!”

 

 

Rua del Franco

 

 

Chego à estação e quando vou confirmar o horário e local de embarque encontro o Xavi e a Judith. Despedimo-nos novamente: -“Surte! Suerte!”.
 

A viagem de comboio até Salamanca demora 6h30. Há uma paragem em Ávila que aproveito para dar uma volta pelas redondezas e comer algo. Descubro então que está a terminar aqui uma etapa da volta a Espanha em Bicicleta. Caos. Os ciclistas a passarem. As ruas cortadas ao trânsito. Milhares de pessoas. Confusão…

 

Quando o comboio pára em Salamanca, apercebo-me que a estação fica exactamente do lado oposto ao qual deixei o carro. Boa.

Tenho de atravessar Salamanca a pé, de noite, mochila às costas e cajado na mão.
Muita gente nas ruas. Muita gente, mesmo! É que o mês de Setembro em Salamanca é altura das Festas da Cidade e animação é generalizada. Só que este ano, 2002, Salamanca é também Capital Europeia da Cultura, pelo que…
 
Chego ao carro e sigo para Portugal – Serra da Estrela. Vou passar a noite nas Penhas da Saúde e no dia seguinte sigo para Mora.
 
 

No final do Caminho