1º Dia - 9 de Setembro 2002 – 2ª feira

Salamanca – Calzada de Valdunciel – 15,7km


8h15 – Hora Portuguesa

Estou a sair do Hotel Serra da Estrela, nas Penhas da Saúde. Depois da tempestade de ontem, o dia acordou esplendoroso. Um manto de nuvens cobre a Cova da Beira e dá-me os bons dias encorajando-me para a missão que agora começa.

 

A minha mãe faz anos hoje. Está um pouco apreensiva. Não só pelo facto de eu ir para outro país caminhar, mas por o ir fazer sozinho.

 

Mas este caminho tenho de o fazer sozinho.

 

13h37 – Hora Espanhola

Estacionei o carro junto ao Complexo Desportivo Salas Bajas, da Universidade de Salamanca.

Caminho até ao Posto de Turismo para carimbar a credencial e iniciar o Caminho.

 

 

Plaza Mayor de Salamanca

 

Estamos em plena altura das festas anuais de Salamanca e este é um local fulcral. Há um grande palco em frente ao Ayuntamento para espectáculos e peço a um transeunte que me tire uma foto para a posterioridade. Este ano, Salamanca é a Capital Europeia da Cultura.

É aqui que oficialmente inicio o meu Caminho.

 

 

Chego a Aldeaseca de Armuña.

O tempo continua esplêndido mas a mochila está muito pesada. Devia ter trazido menos coisas. Por causa disso, e após cerca de 2 horas de caminhada já tenho bolhas nos pés. Tenho de parar e “coser” as bolhas.

Sigo para Castellanos de Villiquera.

 

18h20 – Chego a Calzada de Valdunciel

Não há albergue para pernoitar, mas já o sabia. Por isso trouxe a tenda e monto-a à saída da aldeia junto a uma pequena lagoa. Trato dos pés e uso compeed. A opção de ter cosido as bolhas revelou-se acertada.

 

Conseguem ver um pouco da lagoa, à direita

 

 

O Caminho hoje tem sido completamente plano. Quilómetros de planícies infindáveis.

 

Passeio pela aldeia, mas está quase tudo fechado. Consigo comprar um pouco de pão e regresso à tenda. Preparo o jantar no fogão portátil que também carrego às costas, assim como os talheres, o prato…

 

Passa um senhor por mim e diz-me que estou nas terras dele. Pensei logo que iria ter problemas, mas quando lhe digo que estou a fazer o Caminho logo me começa a dar conselhos sobre a jornada de amanhã, que vai ser dura, quer pela distância a percorrer, quer pelo calor que vou enfrentar.

São 19h20 e estou a terminar de jantar com um magnífico por de sol à minha frente.

Vou-me deitar a pensar “Se este foi o primeiro dia, como será o último…”

Mal sabia eu a noite que iria ter...